O Candomblé para mim deixou de ser apenas uma religião para se tornar um estilo de vida.

"Huntó Douglas D' Odé"

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A incorporação.

A incorporação vem se tornando ao longo do tempo um assunto que ninguém aborda, muitas vezes por medo de falar a verdade, por medo de ferir aos outros e na grande maioria das vezes medo de saber que a verdade vai contra aquilo que vem praticando há anos.

Para um médium ter uma boa incorporação é necessário que a energia do Òrísà ou entidade tome o corpo do médium em 80%, sendo assim ainda sobrariam 20% que fica responsável pelos órgãos vitais do ser humano, ou seja, a respiração, a visão, a audição e os movimentos, que são utilizados pela energia conduzida. Em uma incorporação que fica 50% a energia conduzida (Òrísà ou Entidade) e 50% a energia condutora (Médium) é notório que esse médium não está tendo uma boa incorporação. É aonde entra a interferência do médium, falando aquilo que acha correto ou aquilo que tem vontade de falar e por alguém motivo não fala.

É fato que ninguém se incorpora totalmente com Òrísà, já que seria impossível, pois não há ser humano que seja puro o suficiente para que um Òrísà use seu corpo. A energia do Òrísà depositada no corpo de um médium não é a total energia de um Òrísà. Um filho de Iyemonjá tem forças para segurar as águas do mar? Um filho de Òsún tem força para segurar as águas do rio? Um filho de Iyansà tem força para segurar um vendaval? A resposta para todas as perguntas é não, então uma incorporação com 100% da energia do Òrísà seria como um filho de Iyansà segurar o vendaval. Cada médium recebe a quantidade de energia que seu corpo suporta para preencher os 80% que ficam disponíveis para o Òrísà.

Existem regras básicas para que um médium tenha uma boa incorporação. Uma pessoa que vestirá seu Òrísà em uma festa domingo, sem sombra de dúvidas deve ter um preparo. Se essa pessoa sai no sábado, vai para uma boate, bebe a noite toda, tem relações sexuais, e chega em casa às 15:00hrs para vestir o Òrísà às 18:00hrs, fica notório que essa pessoa não receberá nem a metade da energia que deveria receber. Porém se essa mesma pessoa ficasse em casa, repousando, essa pessoa receberia a energia que necessita.

Há outro fator na incorporação que é importante ressaltar, que é a força da energia recebida. A energia perde força conforme o tempo, um sirè dura geralmente em torno de 6 horas, dentro dessas 6 horas o Òrísà de uma pessoa que ainda é Iyawò, passará várias vezes, é claro que quando esse Òrísà passar pela última vez no sirè já não será mais com a mesma força que passou da primeira vez, isso ocorre devido ao corpo físico da energia condutora ou médium ficar cansado, com a fraqueza do corpo do médium a energia do Òrísà também vai perdendo força.

Quando uma pessoa está virada com Òrísà, as pessoas afirmam que a mesma não pode sentir dores ou necessidade de água, que é uma verdadeira ignorância. Camuflado por baixo da energia está um ser humano que necessita de água, as dores de fato ficam mais neutralizadas, isso acontece já que os sinais vitais do médium estão em apena 20%.

Em uma festa de Esú muitos incorporam visando a bebida que tem para beber, esses médiuns após 20 minutos de festa, quando já beberam no mínimo 3 copos de champanhe, cachaça ou qualquer outra bebida a força da entidade já cai, justamente pelo fato do médium estar visando somente a bebida, a partir de então o médium passa a influenciar a entidade, até que a entidade vai se afastando cada vez mais, porém o médium que só visa a bebida permanece dizendo que está incorporado, aonde fala coisas que magoam pessoas, e perde ainda mais a credibilidade aos olhos das pessoas.

É uma covardia do médium que utiliza uma entidade para falar aquilo que lhe convém. Entidades essas muitas que muitas vezes vem a Terra com o propósito de fazer o bem, de prestar uma caridade e ajudar aqueles que necessitam.

Para uma boa incorporação basta a boa vontade e a concentração do médium.

Por: Akòwé Ofá Dourado.