O Candomblé para mim deixou de ser apenas uma religião para se tornar um estilo de vida.

"Huntó Douglas D' Odé"

terça-feira, 29 de março de 2011

Série "Reino de Oyó - Família do Fogo" - Parte 02 - Àyírà

No Brasil é geralmente conhecido como Sangô já que os dois Òrísàs tem culturas parecidas, na verdade é um Eborá de culto próprio, que pertence à família de Sangô, em Nupê/Tapa, Nigéria.

Àyírà tem como propriedade manter o equilíbrio dos movimentos da terra, sendo o senhor da distância. Representa também o eixo da terra tendo como símbolo os 04 pontos cardeais, sendo representado em todos os assentamentos e obrigações através da fava de aridã.

Em algumas casas de culto ao Òrísà, este Òrísà veste-se de branco, tem profundas ligações com Òsalá, e é o grande homenageado durante a festa do fogo (Isire Ina Àyírà) que, no Brasil, comemora-se em 29 de junho. Àyírà não usa coroa, mas um eketé branco. Suas comidas votivas não são temperadas com dendê, e sim com banha de ori africana. Come quiabos, assim como Sangô e toda a sua família, numa oferenda chamada ajebó. Isso não implica que em outros templos seja diferente.

Segundo um mito, em terras brasileiras, Òsalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Sangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Sangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem. A festividade conhecida hoje como Águas de Òsalá remonta a esse acontecimento.
entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Yemonjá, sua esposa, o aguardava. Sangô não podia acompanhá-lo pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Àyírà que fizesse isso em seu lugar.

Foi assim que Àyírà tornou-se o companheiro de Òsalá, pois a viagem foi muito longa já que Òsalá andava muito devagar (conta-se também que Àyírà carregava Òsalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão.
Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Òsalá sentia frio e precisava descansar. Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Àyírà mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento. Òsalá observava o fogo e Àyírà passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.

Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira no dia 29 de junho de cada ano (no Brasil), em homenagem a Àyírà e à viagem que fez em companhia de Òsalá.

Em alguns terreiros de candomblé cultua-se um grupo de qualidades de Sangô que recebe o nome de Àyírà. Também se acredita que Àyírà seja um Òrísà diferente de Sangô e que participa de alguns de seus mitos. O mais comum é considerar-se Àyírà como um Sangô branco. 

Àyírà Intilé

É o filho rebelde de Obatalá. Àyírà Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. Um dia, Obatalá juntou-se a Oduduwá e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco. Àyírà Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço. Na perseguição encontrou Obatalá e tentou enfrentá-lo. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Àyírà Intilé havia se submetido a alguém. Àyírà tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas. Foi então que Obatalá desfez os colares de Àyírà Intilé e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares. Obatalá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Obatalá fez com que Àyírà Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Os filhos desse caminho qualificativo de Àyírà tem um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.
 
Àyírà Ibonã

É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Àyírà, rito em que Àyírà Ibonã dança acompanhado de Oyá, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que Ibonã foi criado por Dàdá Ajaká, que o mimava em tudo o que podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dàdá Ajaká não realizasse. Um dia Dàdá Ajaká surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Àyírà Ibonã, sempre acompanhado de Oyá, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras. Os filhos desse caminho qualificativo de Àyírà têm espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.
 
Àyírà Àjáosi

surpresa deparou-se com Àyírà que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branco. Osaguian, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Àyírà Àjáosi. No entanto, como punição pela mentira de Àyírà, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas.  É o eterno companheiro de Osaguian. Um dia, passando Osaguian pelas terras onde vivia Àyírá Àjáosi despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas. Sem que Osaguian se desse conta, Àyírà trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Osaguian, misturando-se aos soldados do rei de Ejibô. No caminho encontraram inimigos ao que Àjáosi, medroso que era, escondeu-se atrás de uma grande pedra. Osaguian observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido atrás da pedra. Sorrateiramente Osaguian interpelou seu soldado e para suaOs filhos de Àyírà Àjáosi são considerados jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais.

São muitos os caminhos qualificativos de Sangô, que se juntam aos caminhos qualificativos de Àyírà. Em diferentes países e regiões da África em que a religião dos Òrísàs sobreviveu e prosperou, há diferentes variantes dos caminhos qualificativos dos Òrísàs, pois cada grupo, geograficamente isolado, ao longo do tempo, acabou por selecionar esta ou aquela passagem mítica do Òrísà. Muitas foram esquecidas, outras ganharam novos significados. Todos os caminhos qualificativos são representados por diferentes cores e outros atributos, de modo que, pelas vestes, contas e ferramentas, ritmos e danças, é possível identificar a qualidade que está sendo festejada, principalmente no barracão de festas dos terreiros. Não só por esses aspectos, mas também pelas oferendas votivas e pelos animais que são sacrificados em favor da divindade.
 

Por: Huntó Douglas D' Odé

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